Aviação Regional: Artigo de primeira necessidade

Muito tem se falado da retomada do crescimento e da conseqüente necessidade de investimentos em infra-estrutura (Estradas, portos, energia, etc), além das promissoras Parcerias Público-Privadas. Infelizmente, quase nada tem se falado da sofrida mas não menos fundamental aviação regional brasileira. Se a previsão é crescer 3,5% neste ano e muito mais nos próximos, é bom o governo começar a olhar com carinho para este importante segmento econômico, pois através dele também passa o desenvolvimento econômico e social dos confins deste imenso país. Também é pelas asas da aviação regional que as pessoas que vivem em regiões distantes dos grandes centros urbanos podem se locomover com rapidez e segurança, alavancar negócios, incrementar o turismo, integrar regiões e promover o progresso, além de tornar mais fácil a vida das pessoas.

Convém lembrar, de início, que o Brasil, além de ser um país com dimensão continental, é o quinto país do mundo em extensão territorial e em população. 8 milhões e meio de km2 de área e 180 milhões de habitantes são motivos mais do que suficientes para comprovar a importância que a aviação regional tem para o país. Entretanto, os números da indústria do transporte aéreo regional não apresentam uma performance compatível com um país com a dimensão e população como o nosso, deixando muito a desejar. Em 2002, o conjunto das 14 empresas aéreas regionais transportou apenas 452 mil passageiros, o que é insignificante em termos percentuais de nossa população, não chegando a míseros 0,3%! De igual forma, o número de municípios atendidos é lamentável, não atendendo mais que 73 pequenos municípios de um universo de mais 5.500 municípios, os quais representam outros irrisórios 1,31% do total de municípios brasileiros.

Interessante observar que este quadro era bem diferente nos anos 50, quando nossa aviação regional atendia 400 cidades no país. Passados meio século, era de se esperar que este número fosse ainda maior. Infelizmente, como podemos observar, o atual quadro é desolador. Mas isto pode e deve mudar.

Agora em março, acontecerá em Brasília no dia 4 o segundo congresso nacional da aviação regional brasileira. A proposta das regionais é aumentar para 200 o número de municípios num prazo de 3 anos, levando o conforto e praticidade do transporte aéreo de passageiros para centenas de milhares de pessoas.

O que é importante, neste momento em que se discute uma nova política para a aviação civil brasileira, é atentar para as peculiaridades da aviação regional, criando uma política específica para este segmento. Atendendo municípios pequenos e muitas vezes com pistas de terra e sem qualquer infra-estrutura aeroportuária e de navegação aérea, as empresas não podem se dar ao luxo de operar aviões grandes, tendo que diluir seu custo operacional numa etapa de vôo entre apenas 19 passageiros (LET-410). Evidente que uma tarifa para um vôo de 19 passageiros nunca poderá ter o mesmo valor que uma tarifa para um vôo de 180 passageiros (Boeing 737-800)! Além da baixa demanda e rentabilidade, que afugenta os grandes investidores, os empresários deste setor deparam-se com custos proibitivos de viabilidade econômica, a exemplo do querosene de aviação, que chega a ser vendido em determinadas regiões a US$ 0,60 o litro, contra US$ 0,18 nos EUA e dos juros para financiamento de aeronaves, incompatível com a rentabilidade do negócio.

É por este motivo que o governo deve olhar com muita atenção para este importante segmento a fim de viabilizar uma expansão continuada do setor, que é, em muitas regiões deste imenso continente, um verdadeiro serviço de utilidade pública e de primeiríssima necessidade, basta ver os noticiários sobre estradas interditadas pela chuva em diversas regiões do país. Em muitas cidades, o avião é o único meio de transporte rápido, pois estradas inexistem e barcos levam dias para ir e vir. Muitos doentes são transportados diariamente para cidades onde podem ser atendidos, além do transporte diário de material para exames médicos. Correspondências urgentes e encomendas também só são possíveis graças às nossas regionais. É fácil perceber a importância social que a aviação regional representa para as populações do norte e centro-oeste deste país.

A exemplo dos programas Modercarga e Moderfrota criados pelo governo federal para renovação das frotas agrícolas e rodoviárias, também poderia se pensar num ModerAsas, pois a idade média da frota de 59 aviões turboélices que compõem a frota nacional está em 19 anos, tendo o avião mais novo 6 anos e o mais velho 41 (Revista AviãoRevue de nov/2003).

Em valores, um programa deste visando a renovação de toda a frota brasileira de turboélice por aviões novos, mais silenciosos, econômicos e confortáveis não ultrapassariam US$ 330 milhões, suficientes para comprar 30 ATR-42 e 30 LET-410, por exemplo, turboélices para 40 e 20 passageiros, respectivamente. Este investimento não chegaria a 35% Modercarga e Moderfrota somados.

Caso não haja uma política que incentive a volta do investimento no setor, para a compra de novas aeronaves e ampliação de linhas, o que podemos esperar é um retrocesso no setor, comprometendo seriamente o desenvolvimento e integração de regiões que, apesar de muito distantes do centro do poder do país, também fazem parte do território nacional e, seus moradores, também são brasileiros, nossos irmãos. Se hoje a indústria da aviação regional transporta 452 mil passageiros, isto deve-se a paixão que seus dirigentes nutrem pela aviação. Entretanto, a paixão, assim como o início de um namoro, tem vida curta. Está na hora de transformar esta paixão num negócio rentável.

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